Doença de Graves - Hipertireoidismo na Gravidez”
As doenças da tireóide na gravidez são assunto de grande importância frente aos riscos de abortamento e complicações neonatais (especialmente as más formações fetais), que podem ocorrer em função do hipertireoidismo descompensado, e dos tratamentos instituídos. É essencial que a mulher que deseja engravidar e esteja em tratamento de hipertireoidismo ou tenha já sido tratada para alterações da tireóide, procure seu endocrinologista o quanto antes e avalie seus níveis hormonais e de auto-anticorpos (TRAB), para programar o tratamento durante esse período tão especial para mulher.


A doença de Graves representa a grande maioria desses casos. As alterações oculares são um achado frequente e podem indicar a necessidade de exames tireoidianos nessa mulher antes de engravidar.
Estudos recentes indicam um risco de 2-3% de má formação fetal em gestações com hipertireoidismo; sendo o período de maior risco observado foi até a 10ª semana (entre 6-10 semanas, na média). A recomendação atual da Endocrine Society era de suspender o Metimazol (Tapazol), pelo maior risco de alterações fetais, e substituir pelo (Propiltiouracil, PTU) no 1º trimestre da gestação.
No entanto, dados mais atuais de 2 grandes estudos, mostraram que ambas as medicações (Propiltiouracil, PTU e Metimazol, conhecido como Tapazol) tiveram aumento de efeitos deletérios nessa 1ª fase da embriogênese (formação fetal < 6 sem.). A prevalência de até 6% de outras má formações foi observada em até 2 anos de seguimento. Nos casos de gestantes com exposição precoce (< 6 semanas) ao PTU, observaram má formações em 2.3% dos recém-nascidos, consideradas mais “brandas” em relação as complicações geradas pelo Metimazol. Esse resultado foi validado pela comparação contra cerca de 800.000 nascidos vivos de mães sem doença tireoidiana prévia.
Os dois estudos de 2012 (japonês) e 2013 (dinamarquês, JCEM 2013) envolveram 1426 e 1097 gestantes, respectivamente, e evidenciaram maior taxa de defeitos ao nascimento, em mães usuárias de tanto de PTU quanto Metimazol, quando comparados com gestantes sem disfunção tireoidiana (estudo da Dinamarca) e mulheres com hipertireoidismo em tratamento mas sem gestação em fase inicial (estudo japonês)
A figura abaixo mostra o “time” entre a formação fetal (1-10 semanas), e os riscos principais inerentes ao hipertireoidismo descompensado e/ou tratamento instituído. O período “rosa” é considerado o de maior risco “sensibilidade máxima” e possibilidade de teratogênese (má-formação fetal).

O estudo dinamarquês avaliou um número muito significativo de gestantes sem hipertireoidismo, (811.730); e detectaram defeitos de formação em 5.7% dos casos, em comparação com 9.1% das gestantes expostas ao Metimazol; e 2.3% expostas ao PTU. Já no estudo japonês, o uso do PTU na 1ª etapa da gestação, não mostrou aumento de complicações.
Além dos exames obstétricos, é importante que seu Endocrinologista avalie os níveis de TRAB durante a gestação. Besançon e colaboradores em estudo recente (Eur J Endocrinol. 2014, jun. 170:855-62), evidenciaram maior taxa de hipertireoidismo neonatal (no recém-nascido) quando da presença de TRAB (+) em gestantes em tratamento para hipertireoidismo. Cerca de 70% dos neonatos tiveram TRAB (+) também, e 7 (29.1%) recém-nascidos desenvolveram hipertireoidismo (confirmados entre 4 e 7 dias no pós-parto).
Evidenciar as alterações da tireóide o mais rápido possível e buscar as alternativas de tratamento mais adequadas para que a gestação ocorra dentro do menor risco possível! Converse com seu médico para tomar as decisões mais adequadas a você.
Dr. Frederico Maia.
Especialista em Doenças da Tireóide – Mestre pela UNICAMP
Endocrinologista – Hospital Israelita Albert Einstein