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Açúcar vs. Adoçante: Mudança de hábitos para evitar sobrepeso em crianças

O excesso de peso nas crianças é um fator determinante para obesidade na vida adulta (cerca de 70%), segundo apontam os estudos mais recentes (1). O impacto da alimentação inadequada, com alto teor de carboidratos e gorduras, baixo consumo de fibras e leguminosas, associados à falta de exercícios, (sobretudo nas grandes cidades, onde a violência urbana é cada vez pior), são fatores determinantes para esse ganho de peso, com destaque para o alto consumo de bebidas adoçadas a base de açúcar (2).


Diversos estudos já demonstraram o impacto do consumo de bebidas açucaradas no ganho de peso em crianças e adolescentes, e suas repercussões, com aumento de síndrome metabólica futuramente (4-5).



Dados publicados recentemente, em setembro/12, vieram clarear alguns pontos importantes nessa luta contra o peso, através dos resultados publicados no importante jornal cientifico New England Jornal of Medicine (6), em que TRES importantes estudos abordaram os impactos das bebidas açucaradas no ganho de peso (6-8).

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Qi e colaboradores (6) demonstraram a associação entre a predisposição genética para obesidade, associada ao consumo de bebidas com açúcar, proporcionando um aumento de peso significativo, em cerca de 33.000 americanos. Foram estudadas as 32 variações de genes conhecidos por influenciar no peso com o objetivo de se estabelecer um perfil genético dos participantes do estudo.


Os outros dois estudos demonstraram que o aumento do consumo de bebidas sem calorias / açúcar, como água mineral ou refrigerantes / sucos de frutas com adoçantes, levaram a uma perda de peso e/ou manutenção do peso normal, em relação aos grupos que usavam bebidas açucaradas.


O primeiro foi feito no hospital infantil de Boston, com 224 adolescentes obesos ou que tinham excesso de peso. As bebidas eram enviadas para a casa dos participantes, regularmente, garrafas d'água ou refrigerantes "light" (uma vez que esse é o local principal de consumo de bebidas doces, em geral). Os resultados mostraram um baixo ganho de peso nesse grupo de intervenção (< 1,5 kg) contra um aumento cerca de 2x maior (3,4 kg, em média), no grupo controle (bebida açucarada) (7).


O terceiro e mais bem controlado estudo (8), o estudo DRINK, envolveu crianças entre 4 e 11 anos, média de 8,2 anos; ambos os sexos, acompanhadas por cerca de 18 meses, de forma “duplo-cega e randomizada”, o que permitiu excluir fatores emocionais e sociais frente aos resultados obtidos, dando mais confiança aos achados do estudo, realizado em Amsterdam (Holanda), inclusive pelo controle do nível urinário do adoçante (confirmando o uso pelas crianças em estudo).


As crianças foram submetidas ao uso de bebida açucarada (que já usavam antes, por questões éticas) ou “sugar-free”: adoçada artificialmente com adoçante sucralose, feitos pela empresa Refresco Benelux, contendo 250ml em cada frasco diário (104 kcal vs. 0 no grupo sem açúcar; que continha 34mg de sucralose), para padronizar o consumo. Cerca de 18% das crianças em ambos os grupos tinham sobrepeso / obesidade já instalados, sendo cerca de 80% na faixa de normalidade.


Os resultados foram analisados em 74% das crianças que completaram os 18 meses de estudo. A maior taxa de desistência ocorreu em crianças que já tinham um peso mais elevado no início e pais com menor nível de escolaridade. 477 crianças completaram o estudo, consumo médio de 5.8 garrafas (250ml) por semana.


Quanto ao tipo de bebida ingerida? Aos 18 meses de estudo, as crianças foram indagadas sobre qual bebida estavam usando (açúcar ou adoçante), sendo que cerca de metade (50%) das crianças, de ambos os grupos, não sabiam a resposta!!! Além disso, 27% das crianças no grupo bebida açucarada achavam estar em uso de bebida livre de açúcar, ou seja, 77% das crianças em uso de bebida com açúcar NÃO SOUBERAM a diferença entre os tipos de bebida (adoçante vs. açúcar).


Quanto ao aumento de massa gorda (%)? Aos 6 e 18 meses de estudo, as crianças foram submetidas a análise de bioimpedância que mediu o percentual de gordura corporal; evidenciando uma variação inexpressiva no grupo de bebida com adoçante, com um aumento cerca de 30% maior na massa gorda de crianças em uso de bebida com açúcar.


Quanto ao aumento de Peso (Kg)? Após 18 meses, as crianças que consumiram bebidas com adoçante sucralose aumentaram cerca de 6,39 kg (média), contra 7,30 kg observados no grupo que ingeriu bebidas de frutas açucaradas.



LIÇÕES DOS ESTUDOS:


1) BEBIDAS a base de AÇUCAR e alto teor calórico (104 kcal / garrafa 250ml) diariamente, favorecem o ganho de peso em crianças saudáveis;


2) BEBIDAS ADOÇADAS ARTIFICIALMENTE (ADOÇANTE SUCRALOSE) evitaram o ganho de peso em crianças saudáveis;


3) Crianças e adolescentes NÃO DIFERENCIAM bebida com ou sem açúcar em relação a adoçante;


4) Só a bebida açucarada não é o “vilão”= a predisposição genética junto ao consumo exagerado de tais produtos parece ser o maior problema, a ser combatido!




Leitura recomendada:1) Ogden CL, Carroll MD, Kit BK, Flegal KM. Prevalence of obesity and trends in body mass index among US children and adolescents, 1999-2010. JAMA 2012;307:483-490.
2) Duffey KJ, Popkin BM. Shifts in patterns and consumption of beverages between 1965 and 2002. Obesity (Silver Spring) 2007;15:2739-2747.
3) Dhingra R, Sullivan L, Jacques PF, et al. Soft drink consumption and risk of developing cardiometabolic risk factors and the metabolic syndrome in middle-aged adults in the community. Circulation 2007;116:480-488.
4) Dubois L, Farmer A, Girard M, Peterson K. Regular sugar-sweetened beverage consumption between meals increases risk of overweight among preschool-aged children. J Am Diet Assoc 2007;107:924-934.
5) Ludwig DS, Peterson KE, Gortmaker SL. Relation between consumption of sugar-sweetened drinks and childhood obesity: a prospective, observational analysis. Lancet 2001;357:505-508.
6) Qi Q, Chu AY, Kang JH, et al. Sugar-sweetened beverages and genetic risk of obesity. N Engl J Med 2012. DOI: 10.1056/NEJMoa1203039.
7) Ebbeling CB, Feldman HA, Chomitz VR, et al. A randomized trial of sugar-sweetened beverages and adolescent body weight. N Engl J Med 2012. DOI: 10.1056/NEJMoa1203388.
8) de Ruyter JC, Olthof MR, Seidell JC, Katan MB. A trial of sugar-free or sugar-sweetened beverages and body weight in children. N Engl J Med 2012. DOI: 10.1056/NEJMoa1203034.

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