DOENÇA CELÍACA e os HORMÔNIOS – Parte II
Tratamento e seu impacto na Tireoide
Na prática ENDÓCRINA, as principais queixas que recebemos no consultório dos pacientes que nos levam a suspeitar e pesquisar a DC em geral são:
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Queixas associadas à disbiose;
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Atraso de crescimento / baixa estatura a esclarecer
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Atraso puberal / puberdade retardada
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Diabetes tipo 1 (associação em 5-10% dos casos)
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Tireóide: alterações hormonais mínimas, como TSH entre 4,5 e 10mU/L.
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Tireoidite de Hashimoto (presente em cerca de 10-15% dos casos de DC)
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Deficiência de vitamina D isolada ou associada a outras
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Anemia (mesmo com reposição oral frequente) crônica
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Intolerância parcial a lactose
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Fadiga crônica, baixa performance e mal estar gastrointestinal associados
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Insuficiência Adrenal – doença de Addison

TRATAMENTO NA DOENÇA CELÍACA e seu IMPACTO NA TIREOIDE
O tratamento da DC consiste basicamente em uma educação alimentar e acompanhamento nutricional, com restrição total do glúten (“GFD”, gluten-free diet), devendo-se, portanto, excluir da alimentação alimentos que contenham trigo, centeio, cevada e aveia.
Com a instituição de dieta sem glúten (GFD) observa-se uma melhora significativa da mucosa intestinal, assim como das manifestações clínicas, entre 12 e 18 meses de acompanhamento. As reposições específicas de vitaminas devem ser criteriosamente definidas pela equipe médica

O uso de hormônio de crescimento (GH) para crianças com baixa estatura deve ser definido pelo Endocrinologista, bem como o suporte de hormônios tireoidianos (LT4), e vitamina D, na prevenção óssea. Estudo da Universidade de Vermont mostrou que após a instituição da GFD em pacientes adultos celíacos portadores de Hipotireoidismo (14.5% dos casos), houve uma menor necessidade de dose diária de Levotiroxina antes e depois do início da dieta, com uma redução da dose por quilo variando de 2.6 mcg/kg para 1.9mcg/kg, para efeitos de normalização do TSH nesse grupo de pacientes (Am J Med. 2012; 125, 3).
Dois estudos italianos demonstram a associação de DC e autoimunidade tireoidiana em 10 a 12% das crianças com DC. Meloni e cols. (2009) observaram que a despeito da adesão à dieta sem glúten, 2/3 dos pacientes celíacos ainda sim evoluíram com doença autoimune tiroidiana (tireoidite de Hashimoto) no seguimento prolongado, embora o hipotireoidismo tenha ocorrido em menos de 2% dos 324 pacientes acompanhados.
Cassio e cols. (2010), observaram que quase 20% dos pacientes celíacos desenvolveram tireoidite de Hashimoto no seguimento de 104 pacientes com DC, TSH em níveis normais e ausência prévia de anticorpos anti-tireoidianos. O aparecimento de hipotireoidismo também foi discreto, em 2.8% dos casos. Nos casos de hipotireoidismo subclínico (HSC), verificou-se uma melhora significativa dos níveis de TSH nos pacientes aderentes à restrição dietética do glúten (GFD) por 12 a 18 meses.
MENSAGENS PRINCIPAIS “TAKE HOME MESSAGE”
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Tireoidite de Hashimoto ocorreu em cerca de 10% dos pacientes celíacos (variando de 5-15%)
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Doença celíaca ocorre em cerca de 2-5% dos pacientes com doença tireoidiana autoimune
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Dieta sem glúten NÃO interferiu na evolução OU PREVENÇÃO de tireoidite de Hashimoto
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Dieta sem glúten parece auxiliar no controle hormonal em indivíduos com HSC por 12-18 meses
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Dieta sem glúten favorece uma melhor absorção de hormônio tiroidiano Levotiroxina (LT4)
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Indivíduos com HIPO que necessitam de doses cada vez maiores de LT4 devem ser pesquisados para DC
J Pediatr. 2009 Jul;155(1):51-5, 55.e1; J Pediatr.; 2010; 156(2): 292-95.
Kahaly GJ1, Schuppan D. Celiac disease and endocrine autoimmunity. Dig Dis. 2015;33(2):155-61.
Dr Frederico F. R. Maia, PhD. Tel: 11.3885-9906
CRM-SP 135.915
Doutor & Mestre em Clínica Médica (Endocrinologia) pela UNICAMP
Endocrinologista - Especialista Titular pela SBEM
Hospital Israelita Albert Einstein - Corpo clínico